Sabedoria - Livro Completo
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Capítulo 1 Ver capítulo

1 Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,* [Ler]

2 porque ele é encontrado pelos que não o tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança; [Ler]

3 com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.* [Ler]

4 A sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado; [Ler]

5 o Espírito Santo educador das almas fugirá da perfídia, se afastará dos pensamentos insensatos, e a iniquidade que sobrevém o repelirá. [Ler]

6 Sim, a sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lábios, porque Deus lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coração, e ouve as suas palavras. [Ler]

7 Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz. [Ler]

8 Aquele que profere uma linguagem iníqua, não pode fugir dele, e a justiça vingadora não o deixará escapar; [Ler]

9 pois os próprios desígnios do ímpio serão cuidadosamente examinados; o som de suas palavras chegará até o Senhor, que lhe imporá o castigo pelos seus pecados. [Ler]

10 É, com efeito, um ouvido cioso, que tudo ouve: nem a menor murmuração lhe passa despercebida. [Ler]

11 Acautelai-vos, pois, de queixar-vos inutilmente, evitai que vossa língua se entregue à crítica, porque até mesmo uma palavra secreta não ficará sem castigo, e a boca que acusa com injustiça arrasta a alma à morte. [Ler]

12 Não procureis a morte por uma vida desregrada, não sejais o próprio artífice de vossa perda. [Ler]

13 Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma. [Ler]

14 Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra, [Ler]

15 porque a justiça é imortal.* [Ler]

16 Mas a morte os ímpios a chamam com o gesto e a voz. Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato, eles merecem ser sua presa. [Ler]

Capítulo 2 Ver capítulo

1 Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: “Curta é a nossa vida, e cheia de tristezas; para a morte não há remédio algum; não há notícia de alguém que tenha voltado da região dos mortos.* [Ler]

2 Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nosso pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coração! [Ler]

3 Extinta ela, nosso corpo se tornará pó, e o nosso espírito se dissipará como um vapor inconsistente! [Ler]

4 Com o tempo nosso nome cairá no esquecimento, e ninguém se lembrará de nossas obras. Nossa vida passará como os traços de uma nuvem, ela desvanecerá como uma névoa que os raios do sol expulsam, e que seu calor dissipa.* [Ler]

5 A passagem de uma sombra: eis a nossa vida, e nenhum reinício é possível uma vez chegado o fim, porque o selo lhe é aposto e ninguém volta. [Ler]

6 Vinde, portanto! Aproveitemo-nos das boas coisas que existem! Vivamente gozemos das criaturas durante nossa juventude! [Ler]

7 Inebriemo-nos de vinhos preciosos e de perfumes, e não deixemos passar a flor da primavera! [Ler]

8 Coroemo-nos de botões de rosas antes que eles murchem!* [Ler]

9 Ninguém de nós falte à nossa orgia; em toda parte deixemos sinais de nossa alegria, porque esta é a nossa parte, esta a nossa sorte! [Ler]

10 Tiranizemos o justo na sua pobreza, não poupemos a viúva, e não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião! [Ler]

11 Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco, em verdade, não serve para nada.* [Ler]

12 Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação. [Ler]

13 Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor! [Ler]

14 Sua existência é uma censura às nossas ideias; basta sua vista para nos importunar. [Ler]

15 Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. [Ler]

16 Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai. [Ler]

17 Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, [Ler]

18 porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários. [Ler]

19 Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. [Ler]

20 Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir”.* [Ler]

21 Eis o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os cega: [Ler]

22 eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras. [Ler]

23 Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza.* [Ler]

24 É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio a provarão.* [Ler]

Capítulo 3 Ver capítulo

1 Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.* [Ler]

2 Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. [Ler]

3 E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! [Ler]

4 Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade, [Ler]

5 e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si. [Ler]

6 Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto. [Ler]

7 No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.* [Ler]

8 Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre. [Ler]

9 Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia.* [Ler]

10 Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor: e desgraçado é aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina! [Ler]

11 A esperança deles é vã, seus sofrimentos sem proveito, e as obras deles inúteis. [Ler]

12 Suas mulheres são insensatas e seus filhos malvados; a raça deles é maldita. [Ler]

13 Feliz a mulher estéril, mas pura de toda a mancha, a que não manchou seu leito conjugal: ela carregará seu fruto no dia da retribuição das almas. [Ler]

14 Feliz o eunuco cuja mão não cometeu o mal, que não concebeu iniquidade contra o Senhor, porque ele receberá pela sua fidelidade uma graça superior, e no Templo do Senhor uma parte muito honrosa,* [Ler]

15 porque é esplêndido o fruto de bons trabalhos, e a raiz da sabedoria é sempre fértil. [Ler]

16 Quanto aos filhos dos adúlteros, a nada chegarão, e a raça que descende do pecado será aniquilada. [Ler]

17 Ainda que vivam muito tempo, serão tidos por nada e, finalmente, sua velhice será sem honra. [Ler]

18 Caso morram cedo, não terão esperança alguma, e no dia do julgamento não encontrarão nenhuma piedade: [Ler]

19 porque é lamentável o fim de uma raça injusta. [Ler]

Capítulo 4 Ver capítulo

1 Mais vale uma vida sem filhos, mas rica de virtudes: sua memória será imortal, porque será conhecida de Deus e dos homens.* [Ler]

2 Quando está presente, imitam-na; quando passada, desejam-na; ela leva na glória uma coroa eterna, por ter triunfado sem mancha nos combates.* [Ler]

3 Mas para nada servirá, ainda que numerosa, a raça dos ímpios; procedendo de renovos bastardos, não estenderá raízes profundas, não se estabelecerá numa base sólida. [Ler]

4 Ainda que por algum tempo estenda seus ramos, estando instavelmente assentada, será abalada pelo vento e, pela violência da tempestade, será desarraigada. [Ler]

5 Os galhos serão quebrados antes do desenvolvimento, o fruto deles será inútil, verde demais para ser comido, e impróprio para qualquer uso, [Ler]

6 porque os filhos nascidos de uniões ilícitas serão no dia do juízo testemunhas a deporem contra seus pais. [Ler]

7 Quanto ao justo, mesmo que morra antes da idade, gozará de repouso.* [Ler]

8 A honra da velhice não provém de uma longa vida, e não se mede pelo número dos anos. [Ler]

9 Mas é a sabedoria que faz as vezes dos cabelos brancos; é uma vida pura que se tem em conta de velhice. [Ler]

10 Ele agradou a Deus e foi por ele amado, assim (Deus) o transferiu do meio dos pecadores onde vivia.* [Ler]

11 Foi arrebatado para que a malícia lhe não corrompesse o sentimento, nem a astúcia lhe pervertesse a alma: [Ler]

12 porque a fascinação do vício atira um véu sobre a beleza moral, e o movimento das paixões mina uma alma ingênua. [Ler]

13 Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma longa carreira. [Ler]

14 Sua alma era agradável ao Senhor, e é por isso que ele o retirou depressa do meio da perversidade. Os povos que veem esse modo de agir não o compreendem, e não refletem nisto: [Ler]

15 que o favor de Deus e sua misericórdia são para seus eleitos, e sua assistência está no meio de seus fiéis.* [Ler]

16 O justo, ao morrer, condena os ímpios que sobrevivem, e a juventude, atingindo tão depressa a perfeição, confunde a longa velhice do pecador. [Ler]

17 Eles verão o fim do sábio, e não compreenderão os desígnios do Senhor a seu respeito, nem por que ele o pôs em segurança. [Ler]

18 Eles verão e mostrarão desprezo, mas o Senhor zombará deles. [Ler]

19 Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, em uma eterna ignomínia, porque ele os ferirá, e os precipitará sem voz, ele os abaterá nas suas bases e os mergulhará na última desolação. Eles serão entregues à dor, e a memória deles perecerá.* [Ler]

20 Comparecerão aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e suas iniquidades se levantarão contra eles para confundi-los. [Ler]

Capítulo 5 Ver capítulo

1 Então, com grande confiança, o justo se levantará em face dos que o perseguiram e zombaram dos seus males aqui embaixo. [Ler]

2 Diante de sua vista serão presos de grande temor e tomados de assombro ao vê-lo salvo contra sua expectativa;* [Ler]

3 tocados de arrependimento, dirão entre si: e, gemendo na angústia de sua alma, dirão: [Ler]

4 “Ei-lo, aquele de quem outrora escarnecemos, e a quem loucamente cobrimos de insultos! Considerávamos sua vida como uma loucura, e sua morte como uma vergonha. [Ler]

5 Como, pois, é ele do número dos filhos de Deus, e como está seu lugar entre os santos? [Ler]

6 Portanto, nós nos desgarramos para longe da verdade: a luz da justiça não brilhou para nós e o sol não se levantou sobre nós! [Ler]

7 Nós nos manchamos nas sendas da iniquidade e da perdição, erramos pelos desertos sem caminhos e não conhecemos o caminho do Senhor! [Ler]

8 O que ganhamos com nosso orgulho, e que nos trouxe a riqueza unida à arrogância? [Ler]

9 Tudo isso desapareceu como sombra, como notícia que passa;* [Ler]

10 como navio que fende a água agitada, sem que se possa reencontrar o rasto de seu itinerário, nem a esteira de sua quilha nas ondas. [Ler]

11 Como a ave que, atravessando o ar em seu voo, não deixa após si o traço de sua passagem, mas, ferindo o ar com suas penas, fende-o com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se nota indício de sua passagem; [Ler]

12 como quando uma flecha, que é lançada ao alvo, o ar que ela cortou volta imediatamente à sua posição de modo que não se pode distinguir sua trajetória, [Ler]

13 assim, também nós, apenas nascidos, cessamos de ser, e não podemos mostrar traço algum de virtude: é no mal que nossa vida se consumiu!”. [Ler]

14 Assim a esperança do ímpio é como a poeira levada pelo vento, e como uma leve espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o fumo ao vento, e passa como a lembrança do hóspede de um dia.* [Ler]

15 Mas os justos viverão eternamente; sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles.* [Ler]

16 Por isso, receberão a régia coroa de glória, e o diadema da beleza da mão do Senhor, porque os cobrirá com sua direita, e os protegerá com seu braço. [Ler]

17 Por armadura tomará seu zelo cioso, e armará as criaturas para se vingar de seus inimigos. [Ler]

18 Tomará por couraça a justiça, e por capacete a integridade no julgamento. [Ler]

19 Ele se cobrirá com a santidade, como com um impenetrável escudo, [Ler]

20 afiará o gume de sua ira para lhe servir de espada, e o mundo se reunirá a ele na luta contra os insensatos. [Ler]

21 Os raios partirão como flechas bem dirigidas, e, como de um arco bem distendido, voarão das nuvens para o alvo; [Ler]

22 uma balista fará cair uma pesada saraiva de ira; a água do mar se levantará em turbilhão contra eles e os rios os arrastarão impetuosamente. [Ler]

23 O sopro do Todo-poderoso se insurgirá contra eles e os dispersará como um furacão; a iniquidade fará de toda a terra um deserto, e a malícia derribará os tronos dos poderosos!* [Ler]

Capítulo 6 Ver capítulo

1 Ouvi, pois, ó reis, e entendei; aprendei vós que governais o universo!* [Ler]

2 Prestai ouvidos, vós que reinais sobre as nações e vos gloriais do número de vossos povos! [Ler]

3 Porque é do Senhor que recebestes o poder, e é do Altíssimo que tendes o poderio; é ele que examinará vossas obras e sondará vossos pensamentos!* [Ler]

4 Se, ministros do reino, vós não julgastes equitativamente, nem observastes a Lei, nem andastes segundo a vontade de Deus, [Ler]

5 ele se apresentará a vós, terrível, inesperado, porque aqueles que dominam serão rigorosamente julgados. [Ler]

6 Ao menor, com efeito, a compaixão atrai o perdão, mas os poderosos serão examinados sem piedade. [Ler]

7 O Senhor de todos não fará exceção para ninguém, e não se deixará impor pela grandeza, porque, pequenos ou grandes, é ele que a todos criou, e de todos cuida igualmente;* [Ler]

8 mas para os poderosos o julgamento será severo. [Ler]

9 É a vós, pois, ó príncipes, que me dirijo, para que aprendais a sabedoria e não resvaleis, [Ler]

10 porque aqueles que santamente observarem as santas leis serão santificados, e os que as tiverem estudado poderão justificar-se. [Ler]

11 Ansiai, pois, pelas minhas palavras, reclamai-as ardentemente e sereis instruídos. [Ler]

12 Resplandecente é a sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente. [Ler]

13 Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam. [Ler]

14 Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta. [Ler]

15 Fazê-la objeto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado. [Ler]

16 Ela mesma vai à procura dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos, [Ler]

17 porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la. [Ler]

18 Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade. [Ler]

19 Ora, a imortalidade faz habitar junto de Deus; [Ler]

20 assim o desejo da sabedoria conduz ao Reino! [Ler]

21 Se, pois, cetros e tronos vos agradam, ó vós que governais os povos, honrai a sabedoria, e reinareis eternamente. [Ler]

22 Mas eu vou dizer o que é a sabedoria e como ela nasceu. Não vos esconderei os seus mistérios; mas a investigarei até sua mais remota origem; porei à luz o que dela pode ser conhecido, e não me afastarei da verdade. [Ler]

23 Não imitarei aquele a quem a inveja consome, porque esse tal não tem nada a ver com a sabedoria:* [Ler]

24 é no grande número de sábios que se encontra a salvação do mundo, e um rei sensato faz a prosperidade de seu povo. [Ler]

25 Deixai-vos, pois, instruir por minhas palavras, e nelas encontrareis grande proveito. [Ler]

Capítulo 7 Ver capítulo

1 Eu mesmo não passo de um mortal como todos os outros, e descendo do primeiro homem formado da terra. Meu corpo foi formado no seio de minha mãe, [Ler]

2 onde, durante dez meses, no sangue tomou consistência, da semente viril e do prazer ajuntado à união conjugal.* [Ler]

3 Eu também, desde meu nascimento, respirei o ar comum; eu caí, da mesma maneira que todos, sobre a mesma terra, e, como todos, nos mesmos prantos soltei o primeiro grito. [Ler]

4 Envolto em faixas fui criado no meio de assíduos cuidados; [Ler]

5 porque nenhum rei teve outro início na existência;* [Ler]

6 para todos a entrada na vida é a mesma e a partida semelhante. [Ler]

7 Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim. [Ler]

8 Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da sabedoria. [Ler]

9 Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama. [Ler]

10 Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue. [Ler]

11 Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas. [Ler]

12 De todos esses bens eu me alegrei, porque é a sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe. [Ler]

13 Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e não escondo a riqueza que ela encerra, [Ler]

14 porque ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para se tornar amigos de Deus, recomendados (a ele) pela educação que ela lhes dá.* [Ler]

15 Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, porque é ele mesmo quem guia a sabedoria e emenda os sábios, [Ler]

16 porque nós estamos nas suas mãos, nós e nossos discursos, toda a nossa inteligência e nossa habilidade; [Ler]

17 foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, quem me fez conhecer a constituição do mundo e as virtudes dos elementos, [Ler]

18 o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mutações das estações, [Ler]

19 os ciclos do ano e as posições dos astros, [Ler]

20 a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes dos espíritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes. [Ler]

21 Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou. [Ler]

22 Há nela, com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo,* [Ler]

23 livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis. [Ler]

24 Mais ágil que todo o movimento é a sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza. [Ler]

25 Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela. [Ler]

26 É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de sua bondade. [Ler]

27 Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus, [Ler]

28 porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria! [Ler]

29 É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva, [Ler]

30 porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a sabedoria, o mal não prevalece. [Ler]

Capítulo 8 Ver capítulo

1 Ela estende seu vigor de uma extremidade do mundo à outra e governa todas as coisas com felicidade. [Ler]

2 Eu a amei e procurei desde minha juventude, esforcei-me por tê-la por esposa e me enamorei de seus encantos.* [Ler]

3 Ela mostra a nobreza de sua origem em conviver com Deus, ela é amada pelo Senhor de todas as coisas. [Ler]

4 Ela é iniciada na ciência de Deus e, por sua escolha, decide de suas obras.* [Ler]

5 Se a riqueza é um bem desejável na vida, que há de mais rico que a sabedoria que tudo criou? [Ler]

6 Se a inteligência do homem consegue operar, o que, então, mais que a sabedoria, é artífice dos seres? [Ler]

7 E, se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida. [Ler]

8 Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e conjetura o futuro; conhece as sutilezas oratórias e revolve os enigmas; prevê os sinais e os prodígios, e o que tem que acontecer no decurso das idades e dos tempos. [Ler]

9 Portanto, resolvi tomá-la por companheira de minha vida, cuidando que ela será para mim uma boa conselheira, e minha consolação nos cuidados e na tristeza.* [Ler]

10 Graças a ela, receberei as honras das multidões, e, embora jovem como sou, o respeito dos anciãos. [Ler]

11 Reconhecerão a penetração de meu julgamento, e excitarei a admiração dos reis.* [Ler]

12 Se me calo, esperarão que eu fale; se falo, estarão atentos; e se prolongo meu discurso, levarão a mão à boca.* [Ler]

13 Por meio dela obterei a imortalidade, e deixarei à posteridade uma lembrança eterna. [Ler]

14 Governarei povos e as nações me serão submissas. [Ler]

15 Príncipes temíveis estarão cheios de medo ao ouvirem falar de mim; eu me mostrarei bom para com o povo e valoroso no combate. [Ler]

16 Recolhido em minha casa, repousarei junto dela, porque a sua convivência não tem nada de desagradável, e sua intimidade nada de fastidioso; ela traz consigo, pelo contrário, o contentamento e a alegria!* [Ler]

17 Meditando comigo mesmo nesses pensamentos, e considerando em meu coração que a imortalidade se encontra na aliança com a sabedoria, [Ler]

18 a alegria perfeita na sua amizade, contínua riqueza na sua atividade, inteligência nas lições de seus entretenimentos familiares, e glória na comunicação de suas sentenças, saí à sua procura, a fim de possuí-la em mim. [Ler]

19 Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente, [Ler]

20 ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intato;* [Ler]

21 mas, consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, e já era inteligência o saber de onde vem o dom, eu me voltei para o Senhor, e invoquei-o, dizendo do fundo do coração: [Ler]

Capítulo 9 Ver capítulo

1 “Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela vossa palavra, [Ler]

2 e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas, [Ler]

3 governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua alma, [Ler]

4 dai-me a sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos. [Ler]

5 Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento e vossas leis;* [Ler]

6 porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe falta a sabedoria que vem de vós. [Ler]

7 Ora, vós me escolhestes para ser rei de vosso povo e juiz de vossos filhos e vossas filhas. [Ler]

8 Vós me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa e um altar na cidade em que habitais: imagem da sagrada habitação que preparastes desde o princípio.* [Ler]

9 Mas ao vosso lado está a sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens. [Ler]

10 Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que vos agrada. [Ler]

11 Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus passos e me protegerá no brilho de sua glória. [Ler]

12 Assim, minhas obras vos serão agradáveis; governarei vosso povo com justiça, e serei digno do trono de meu pai. [Ler]

13 Que homem, pois, pode conhecer os desígnios de Deus, e penetrar nas determinações do Senhor? [Ler]

14 Tímidos são os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas concepções; [Ler]

15 porque o corpo corruptível torna pesada a alma, e a morada terrestre oprime o espírito carregado de cuidados. [Ler]

16 Mal podemos compreender o que está sobre a terra, dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu? [Ler]

17 E quem conhece vossas intenções, se vós não lhe dais a sabedoria, e se do mais alto dos céus vós não lhe enviais vosso Espírito Santo? [Ler]

18 Assim se tornaram direitas as veredas dos que estão na terra; os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram salvos.”* [Ler]

Capítulo 10 Ver capítulo

1 O primeiro homem, o pai do mundo, que foi criado sozinho, foi a sabedoria que cuidou dele, tirou-o de seu próprio pecado,* [Ler]

2 e deu-lhe o poder de reinar sobre todas as coisas. [Ler]

3 E porque o perverso, na sua ira, dela se afastou, pereceu depois de seu furor fratricida.* [Ler]

4 E estando a terra submersa por causa dele pelo dilúvio, a sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo num lenho sem valor.* [Ler]

5 E quando as nações unânimes caíram no mal, foi ela que distinguiu o justo, o manteve irrepreensível diante de Deus, e lhe deu a força para vencer sua ternura pelo seu filho.* [Ler]

6 Foi ela que, quando do aniquilamento dos ímpios, salvou o justo, subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentápole,* [Ler]

7 cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma terra fumegante e deserta, onde as árvores carregam frutos incapazes de amadurecer, e onde está erigida uma coluna de sal, memorial de uma alma incrédula. [Ler]

8 Porque aqueles que desprezaram a sabedoria, não somente se prejudicaram em ignorar o bem, mas ainda deixaram aos homens um testemunho de sua loucura, para que seus pecados não fossem esquecidos. [Ler]

9 Quanto aos que a honram, a sabedoria os liberta de sofrimentos; [Ler]

10 foi ela que guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o Reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus esforços;* [Ler]

11 cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas; [Ler]

12 ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e, no duro combate, deu-lhe vitória, a fim de que ele soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo. [Ler]

13 Ela não abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.* [Ler]

14 Desceu com ele à prisão, e não o abandonou nas suas cadeias, até que lhe trouxe o cetro do reino e o poder sobre os que o tinham oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma glória eterna. [Ler]

15 Foi ela que livrou das nações que tiranizavam o povo santo e a raça irrepreensível; [Ler]

16 entrou na alma do servo de Deus, e se opôs, com sinais e prodígios, a reis temíveis.* [Ler]

17 Deu aos santos o galardão de seus trabalhos, conduziu-os por um caminho miraculoso; durante o dia serviu-lhes de proteção, e deu-lhes a luz dos astros durante a noite.* [Ler]

18 Fê-los atravessar o mar Vermelho, e deu-lhes passagem através da massa das águas, [Ler]

19 ao passo que engoliu seus inimigos, e depois os tirou das profundezas do abismo. [Ler]

20 Também os justos, depois de despojados os ímpios, celebraram, Senhor, vosso santo nome, e louvaram, unidos num só coração, vossa mão protetora, [Ler]

21 porque a sabedoria abriu a boca aos mudos, e tornou eloquente a língua das crianças. [Ler]

Capítulo 11 Ver capítulo

1 Pela mão de um santo profeta aplanou suas dificuldades;* [Ler]

2 eles atravessaram um deserto inabitado, e levantaram suas tendas em lugares ermos; [Ler]

3 resistiram aos que os atacavam, e repeliram seus inimigos. [Ler]

4 Tiveram sede e clamaram a vós: do rochedo abrupto a água lhes foi dada, e da pedra seca estancaram sua sede. [Ler]

5 Porque os elementos que tinham servido para punir seus inimigos, foram-lhes dados, na sua necessidade, como benefício: [Ler]

6 em lugar das ondas de um rio perene turvadas por uma lama de sangue,* [Ler]

7 pela punição do decreto que consagrava crianças à morte, vós lhes destes, de maneira inesperada, água em abundância, [Ler]

8 mostrando-lhes, pela sede que então sofreram, como punistes seus inimigos. [Ler]

9 Por isso, tratados com piedade na sua provação, reconheceram quanto deviam ter sofrido os ímpios, julgados com ira. [Ler]

10 A estes provastes como um pai que corrige, mas a outros provastes como um rei severo que condena. [Ler]

11 Tanto estando longe como perto, a dor os consumiu da mesma forma,* [Ler]

12 porque tiveram um segundo para se entristecer e gemer à lembrança dos males passados. [Ler]

13 Compreendendo, com efeito, que o que era para eles castigo, era para outros ocasião de benefício, sentiram a mão do Senhor; [Ler]

14 e aquele que, outrora exposto e abandonado, tinham repelido com zombaria, admiraram-no finalmente, porque sofreram uma sede diferente da sede do justo. [Ler]

15 Por outro lado, para os punir dos loucos pensamentos de sua perversidade, que os faziam extraviar-se na adoração de répteis irracionais e de vis animais, enviastes contra eles uma multidão de animais estúpidos, [Ler]

16 a fim de que compreendessem que, por onde cada um peca, será punido. [Ler]

17 Não era difícil à vossa mão todo-poderosa, que formou o mundo de matéria informe, mandar contra eles bandos de ursos e de leões ferozes, [Ler]

18 ou animais desconhecidos e de uma nova espécie, cheios de furor, exalando um hálito inflamado, ou espalhando um fumo infeto, ou lançando de seus olhos faíscas terríveis, [Ler]

19 capazes não só de os exterminar com seus golpes, mas ainda de os matar de terror só pelo seu aspecto. [Ler]

20 E, mesmo sem isso, eles poderiam perecer por um sopro, perseguidos pela justiça e arrebatados pelo vento de vosso poder; mas, dispusestes tudo com medida, quantidade e peso, [Ler]

21 porque sempre vos é possível mostrar vosso poder imenso, e quem poderá resistir à força de vosso braço? [Ler]

22 Diante de vós o mundo inteiro é como um nada, que faz pender a balança, ou como uma gota de orvalho, que desce de madrugada sobre a terra.* [Ler]

23 Tendes compaixão de todos, porque vós podeis tudo; e para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens. [Ler]

24 Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum. [Ler]

25 Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não tivesse sido chamada? [Ler]

26 Mas poupais todos os seres, porque todos são vossos, ó Senhor, que amais a vida. [Ler]

Capítulo 12 Ver capítulo

1 Vosso espírito incorruptível está em todos. [Ler]

2 É por isso que castigais com brandura aqueles que caem, e os advertis mostrando-lhes em que pecam, a fim de que rejeitem sua malícia e creiam em vós, Senhor. [Ler]

3 Foi assim que se deu com os antigos habitantes da Terra Santa. [Ler]

4 Tínheis horror deles por causa de suas obras detestáveis, sua magia e seus ritos ímpios, [Ler]

5 seus cruéis morticínios de crianças, seus festins de entranhas, carne humana e sangue, suas iniciações nos mistérios orgíacos,* [Ler]

6 e os crimes de pais contra seres indefesos; e resolvestes aniquilá-los pela mão de nossos pais, [Ler]

7 para que esta terra, que estimais entre todas, recebesse uma digna colônia de filhos de Deus. [Ler]

8 Contudo, porque também eles eram homens, vós os poupastes, enviando-lhes vespas precursoras de vosso exército, para que elas os fizessem perecer pouco a pouco.* [Ler]

9 Não é que vos fosse impossível esmagar os maus por meio dos justos num combate, ou exterminar todos juntos por animais ferozes ou por uma palavra categórica; [Ler]

10 mas castigando-os pouco a pouco, dáveis tempo para o arrependimento, não ignorando que sua raça era maldita, ingênita a sua perversidade, e que jamais seus pensamentos se mudariam, [Ler]

11 porque sua estirpe era má desde a origem... Não era por temor do que quer que fosse que vos mostráveis indulgente para com eles em seus pecados. [Ler]

12 Porque, quem ousará dizer-vos: “Que fizeste tu?”. E quem se oporá a vosso julgamento? Quem vos repreenderá de terdes aniquilado nações que criastes? Ou quem se levantará contra vós para defender os culpados? [Ler]

13 Não há, fora de vós, um Deus que se ocupa de tudo, e a quem deveis mostrar que nada é injusto em vossos julgamentos; [Ler]

14 nem um rei, nem um tirano que vos possa resistir em favor dos que castigastes. [Ler]

15 Mas porque sois justo, governais com toda a justiça, e julgais indigno de vosso poder condenar quem não merece ser punido. [Ler]

16 Porque vossa força é o fundamento de vossa justiça e o fato de serdes Senhor de todos, vos torna indulgente para com todos. [Ler]

17 Mostrais vossa força aos que não creem no vosso poder, e confundis os que não a conhecem e ousam afrontá-la. [Ler]

18 Senhor de vossa força, julgais com bondade, e nos governais com grande indulgência, porque sempre vos é possível empregar vosso poder, quando quiserdes. [Ler]

19 Agindo desta maneira, mostrastes a vosso povo que o justo deve ser cheio de bondade, e inspirastes a vossos filhos a boa esperança de que, após o pecado, lhes dareis tempo para a penitência; [Ler]

20 porque se os inimigos de vossos filhos, dignos de morte, vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para se emendarem, [Ler]

21 com quanto cuidado não julgareis vós os vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento vossa aliança, repleta de ricas promessas! [Ler]

22 Portanto, quando nos corrigis, castigais mil vezes mais nossos inimigos, para que em nossos julgamentos nos lembremos de vossa bondade, e para que esperemos em vossa indulgência quando formos julgados. [Ler]

23 Por isso, também aqueles que loucamente viveram no mal, vós os torturastes por meio das suas próprias abominações: [Ler]

24 porque se tinham afastado demais nos caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis animais, deixando-se enganar como meninos sem razão; [Ler]

25 assim é que, como a meninos sem razão, lhes destes um castigo irrisório.* [Ler]

26 Mas os que recusam a advertência de semelhante correção sofrerão um castigo digno de Deus. [Ler]

27 Excitados, então, pelos sofrimentos causados por esses animais que tinham julgado deuses, e que os atormentavam, viram o que no começo tinham recusado ver, e reconheceram o verdadeiro Deus. Por isso é que caiu sobre eles a condenação final.* [Ler]

Capítulo 13 Ver capítulo

1 São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer aquele que é, nem reconhecer o artista, considerando suas obras.* [Ler]

2 Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo. [Ler]

3 Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez essas coisas. [Ler]

4 Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; [Ler]

5 pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor. [Ler]

6 Contudo, estes só incorrem numa ligeira censura, porque, talvez, eles caíram no erro procurando Deus e querendo encontrá-lo:* [Ler]

7 vivendo entre suas obras, eles as observam com cuidado, e porque eles as consideram belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto. [Ler]

8 Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis, [Ler]

9 porque, se eles possuíram luz suficiente para poder perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles mais facilmente aquele que é seu Senhor? [Ler]

10 Mas são desgraçados e esperam em mortos, aqueles que chamaram de deuses a obras de mãos humanas: o ouro, a prata, artisticamente trabalhados, figuras de animais, alguma pedra inútil a que, outrora, certa mão deu forma.* [Ler]

11 Assim, um lenhador cortou e serrou uma árvore fácil de manejar. Habilmente ele lhe tirou toda a casca, e, com a habilidade do seu ofício, fez dela um móvel útil para seu uso. [Ler]

12 Com as sobras de seu trabalho, cozinhou comida, com que se saciou. [Ler]

13 O que ainda lhe restava não era bom para nada, não passando de madeira torcida e toda cheia de nós; contudo, ele a tomou e consagrou suas horas de lazer a talhá-la; ele a trabalhou com toda a arte que adquirira, e deu-lhe a semelhança de um homem,* [Ler]

14 ou o aspecto de algum vil animal. Pôs-lhe vermelhão, uma demão de uma tinta encarnada, e encobriu-lhe cuidadosamente todo defeito. [Ler]

15 Em seguida, preparou-lhe um nicho digno dele, e o fixou à parede, segurando-o com um prego: [Ler]

16 foi por medo que caísse, que tomou este cuidado, porque sabe muito bem que ele não pode ajudar-se a si mesmo, pois não passa de uma estátua que tem necessidade de um apoio. [Ler]

17 Mas quando lhe implora por seus bens, seus casamentos, seus filhos, não se envergonha de falar ao que é inanimado, e pede saúde ao que é desprezível. [Ler]

18 Reclama a vida ao que é morto, e procura socorro no que é débil; e, para uma viagem, invoca o que não pode andar; [Ler]

19 para um lucro, um trabalho, o bom êxito de uma obra de suas mãos, pede a força ao que nem é capaz de mover as mãos. [Ler]

Capítulo 14 Ver capítulo

1 Outro, por sua vez, que quer navegar e se prepara para atravessar as impetuosas ondas, invoca um madeiro de pior qualidade que o navio que o leva;* [Ler]

2 porque o desejo do lucro inventou o navio, e uma hábil sabedoria dirigiu sua construção. [Ler]

3 Mas sois vós, Pai, que o governais pela vossa Providência, porque, se abristes caminho, mesmo no mar, e uma rota segura no meio das ondas – [Ler]

4 mostrando por aí que vós podeis tirar do perigo aquele que as afronta mesmo sem meios –,* [Ler]

5 quereis, entretanto, que não sejam inúteis as obras de vossa sabedoria. Por isso, os homens confiam a própria vida a um pouco de madeira e atravessam em segurança as ondas num navio. [Ler]

6 Assim, com efeito, quando na origem dos tempos fizestes perecer gigantes orgulhosos, a esperança do universo, refugiando-se num barco, que vossa mão governava, conservou para o mundo o germe de uma geração.* [Ler]

7 Porque é bendito o madeiro pelo qual se opera a justiça, [Ler]

8 mas maldito é o ídolo, ele e o que o fez; este porque o formou, aquele porque, sendo corruptível, leva o nome de deus. [Ler]

9 Com efeito, Deus odeia tanto o ímpio quanto sua impiedade, [Ler]

10 e a obra sofrerá o mesmo castigo que o autor. [Ler]

11 Este é o motivo por que também os ídolos das nações serão julgados: na criação de Deus, eles se tornaram uma abominação, objetos de escândalo para os homens, e laços para os pés dos insensatos.* [Ler]

12 Foi pela idealização dos ídolos que começou a apostasia, e sua invenção foi a perda dos humanos.* [Ler]

13 Eles não existiam no princípio e não durarão para sempre; [Ler]

14 a vaidade dos homens os introduziu no mundo. E, por causa disso, Deus decidiu a sua destruição para breve. [Ler]

15 Um pai aflito por um luto prematuro, tendo mandado fazer a imagem do filho, tão cedo arrebatado, honrou, em seguida, como a um deus aquele que não passava de um morto, e transmitiu aos seus certos ritos secretos e cerimônias. [Ler]

16 Este costume ímpio, tendo-se firmado com o tempo, foi depois observado como lei. [Ler]

17 Foi também em consequência das ordens dos príncipes que se adoraram imagens esculpidas, porque aqueles que não podiam honrar pessoalmente, porque moravam longe deles, fizeram representar o que se achava distante, e expuseram publicamente a imagem do rei venerado, a fim de lisonjeá-lo de longe com seu zelo, como se estivesse presente. [Ler]

18 Isto contribuiu ainda para o estabelecimento deste culto, mesmo entre os que não conheciam o rei; foi a ambição do artista [Ler]

19 que, talvez, querendo agradar ao soberano, deu-lhe, por sua arte, a semelhança do belo; [Ler]

20 e a multidão, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou por deus aquele que tinham honrado como homem. [Ler]

21 E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens, sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira o nome incomunicável.* [Ler]

22 Como se não bastasse terem errado acerca do conhecimento de Deus, embora passando a vida numa longa luta de ignorância, eles dão o nome de paz a um estado tão infeliz. [Ler]

23 Com efeito, sacrificando seus filhos, celebrando mistérios ocultos, ou entregando-se a orgias desenfreadas de religiões exóticas, [Ler]

24 eles já não guardam a honestidade nem na vida nem no casamento, mas um faz desaparecer o outro pelo ardil, ou o ultraja pelo adultério. [Ler]

25 Tudo está numa confusão completa – sangue, homicídio, furto, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, [Ler]

26 perseguição dos bons, esquecimento dos benefícios, contaminação das almas, perversão dos sexos, instabilidade das uniões, adultérios e impudicícias – [Ler]

27 porque o culto de inomináveis ídolos é o começo, a causa e o fim de todo o mal. [Ler]

28 (Seus adeptos) incitam o prazer até a loucura, ou fazem vaticínios falsos, ou vivem na injustiça, ou, sem escrúpulo, juram falso, [Ler]

29 porque, confiando em ídolos inanimados, esperam não ser punidos por má-fé. [Ler]

30 Contudo, o castigo os atingirá por duplo motivo: porque eles desconheceram a Deus, afeiçoando-se aos ídolos, e porque são culpados, por desprezo à santidade da religião, de ter feito juramentos enganadores. [Ler]

31 Pois não é o poder dos ídolos invocados, mas o castigo reservado ao pecador, que sempre persegue as faltas dos maus. [Ler]

Capítulo 15 Ver capítulo

1 Mas vós, Deus nosso, sois benfazejo e verdadeiro, vós sois paciente e tudo governais com misericórdia;* [Ler]

2 com efeito, mesmo se pecamos, somos vossos, porque conhecemos vosso poder; mas não pecaremos, cientes de que somos considerados como vossos.* [Ler]

3 Porque conhecer-vos é a perfeita justiça, e conhecer vosso poder é a raiz da imortalidade.* [Ler]

4 Não fomos seduzidos pelas invenções da arte corruptora dos homens nem pelo vão trabalho dos pintores: borrada figura de cores misturadas, [Ler]

5 cuja vista excita os desejos dos insensatos, fantasma inanimado de uma imagem sem vida que provoca a paixão!* [Ler]

6 Cativados pelo mal, não merecem esperar senão o mal, os que o fazem, os que o amam e os que o veneram.* [Ler]

7 Eis, portanto, um oleiro que amassa laboriosamente a terra mole, e forma diversos objetos para nosso uso, mas da mesma argila faz vasos destinados a fins nobres e outros, indiferentemente, para usos opostos. Para qual destes usos cada vaso será aplicado? O oleiro será o juiz. [Ler]

8 Do mesmo barro, forma também, como obreiro perverso, uma vã divindade, ele que, ainda há pouco, nasceu da terra, e em breve voltará a ela, de onde foi tirado, quando lhe serão pedidas as contas de sua vida. [Ler]

9 Ele mesmo não tem preocupação alguma com o próprio desfalecimento, nem com a brevidade da vida; ele rivaliza, pelo contrário, com aqueles que trabalham o ouro e a prata, imita os que trabalham o cobre. [Ler]

10 Pó é o seu coração, mais vil que a terra sua esperança, e põe sua glória em fabricar objetos enganadores. E mais desprezível que o barro é sua vida,* [Ler]

11 porque não reconheceu aquele que o formou, aquele que lhe inspirou uma alma ativa e lhe insuflou o espírito vital.* [Ler]

12 Para ele a vida é um divertimento, e nossa existência um mercado lucrativo, “porque – diz ele –, é preciso aproveitar-se de tudo, mesmo do mal.” [Ler]

13 Mais que qualquer outro, esse homem sabe que peca, fazendo do mesmo barro vasos frágeis e ídolos.* [Ler]

14 Ora, verdadeiramente, muitos insensatos, mais infortunados que a alma da criança, são os inimigos de vosso povo, que o oprimiram,* [Ler]

15 porque eles também tiveram por deuses todos os ídolos das nações, que não podem servir-se de seus olhos para ver, que não têm nariz para aspirar o ar, nem ouvidos para ouvir, nem os dedos das mãos para apalpar, e cujos pés são incapazes de andar; [Ler]

16 foi, com efeito, um homem que os fez, formou-os alguém que recebeu a alma de empréstimo. Nenhum homem pode fazer um deus, mesmo semelhante a si próprio, [Ler]

17 porque, sendo ele próprio mortal, morto é tudo que produz com suas mãos ímpias. De fato, ele vale mais que os objetos que venera; ele, pelo menos, tem vida, enquanto os ídolos não a têm. [Ler]

18 Chega-se até a adorar os mais odiosos animais, que são piores ainda que os outros animais irracionais,* [Ler]

19 que nem mesmo possuem o que outros seres vivos possuem: bastante beleza para serem amados, e que foram excluídos da aprovação e da bênção de Deus. [Ler]

Capítulo 16 Ver capítulo

1 Por isso, foram justamente castigados por animais dessa espécie e atormentados por uma multidão de animais; [Ler]

2 em vez de feri-lo assim, vós favorecíeis vosso povo, satisfazendo por um alimento surpreendente o ardor de seu apetite, e oferecendo-lhe por alimento codornizes.* [Ler]

3 De tal modo que aqueles, mau grado sua fome, diante do aspecto hediondo de animais enviados contra eles, experimentaram a náusea; estes, após uma curta privação, receberam um alimento maravilhoso.* [Ler]

4 Pois era preciso que os primeiros, os opressores, fossem oprimidos por uma inexorável fome, e que aos outros fossem apenas mostrados os tormentos suportados por seus inimigos. [Ler]

5 Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa cólera não durou até o fim.* [Ler]

6 Foram por pouco tempo atormentados, para sua correção: eles possuíram um sinal de salvação que lhes lembrava o preceito de vossa Lei.* [Ler]

7 E quem se voltava para ele era salvo, não em vista do objeto que olhava, mas por vós, Senhor, que sois o salvador de todos. [Ler]

8 Com isso, mostráveis a vossos inimigos, que sois vós que livrais de todo o mal. [Ler]

9 Quanto a eles as mordeduras dos gafanhotos e das moscas os matavam e não se encontrou remédio para salvar sua vida, porque mereciam ser castigados por tais instrumentos; [Ler]

10 mas a vossos filhos, mesmo os dentes de serpentes venenosas não os puderam vencer porque, sobrevindo a vossa misericórdia, curou-os. [Ler]

11 Eram picados, para que se lembrassem de vossas palavras, e, em seguida, ficavam curados, para que não viessem a esquecê-las completamente e a subtraírem-se de vossos benefícios. [Ler]

12 Não foi uma erva nem algum unguento que os curou, mas a vossa palavra que cura todas as coisas, Senhor. [Ler]

13 Porque vós sois senhor da vida e da morte. Vós conduzis às portas do Hades e de lá tirais;* [Ler]

14 enquanto o homem, se pode matar por sua maldade, não pode fazer voltar o espírito uma vez saído, nem chamar de volta a alma que o Hades já recebeu. [Ler]

15 Escapar à vossa mão é impossível, [Ler]

16 e os ímpios, que recusaram conhecer-vos, foram fustigados pela força de vosso braço, perseguidos por chuvas extraordinárias, saraivas e implacáveis tempestades, e consumidos pelo fogo dos raios.* [Ler]

17 O que havia de mais admirável ainda é que, na água que tudo extingue, o fogo tomava mais violência, porque o universo toma a defesa dos justos.* [Ler]

18 Ora, a chama temperava seu ardor para não queimar os animais enviados contra os ímpios, para que estes se apercebessem e reconhecessem que eram perseguidos pelo julgamento de Deus.* [Ler]

19 Ora, excedendo sua força habitual, o fogo ardia mesmo no meio da água para destruir os frutos de uma terra iníqua... [Ler]

20 Mas, pelo contrário, foi com o alimento dos anjos que alimentastes vosso povo, e foi do céu que, sem fadiga, vós lhe enviastes um pão já preparado, contendo em si todas as delícias e adaptando-se a todos os gostos.* [Ler]

21 Esta substância que dáveis se parecia com a doçura que mostráveis a vossos filhos. Ela se adaptava ao desejo de quem a comia, e transformava-se naquilo que cada qual desejava. [Ler]

22 Embora fosse como neve e gelo, ela suportava o fogo sem se fundir, para mostrar que era para os inimigos que o fogo destruía as colheitas, quando ardia, apesar da saraiva, e brilhava debaixo de chuvas,* [Ler]

23 enquanto que, quando se tratava de alimentar os justos, até perdia sua natural violência.* [Ler]

24 A criatura que vos é submissa, a vós, seu Criador, aumenta sua força para castigar os maus, e os modera para o bem dos que puseram em vós sua fé. [Ler]

25 Do mesmo modo, transformada em tudo que se queria, servia à vossa generosidade que a todos alimenta, segundo a vontade dos que dela tinham necessidade, [Ler]

26 para que os filhos que vós amais, Senhor, aprendessem que não são os frutos da terra que alimentam o homem, mas é vossa palavra que conserva em vida aqueles que creem em vós. [Ler]

27 O que não era destruído pelo fogo, fundia-se ao simples calor de um raio de sol,* [Ler]

28 para que se soubesse que é preciso antecipar-se ao sol para vos agradecer, e que é preciso adorar-vos antes de raiar o dia; [Ler]

29 porque a esperança do ingrato é como a geleira do inverno, que se derramará como água inútil. [Ler]

Capítulo 17 Ver capítulo

1 Em verdade, grandes e impenetráveis são vossos juízos, Senhor; por isso, as almas grosseiras caíram no erro. [Ler]

2 Por terem acreditado que podiam oprimir a santa nação, os ímpios, prisioneiros das trevas e encarcerados por uma longa noite, jaziam encerrados nas suas casas, tentando escapar à vossa incessante vigilância.* [Ler]

3 Depois de terem imaginado que, com seus secretos pecados, ficariam escondidos sob o sombrio véu do esquecimento, eles se viram dispersados, como presa de um terrível espanto, e amedrontados por alucinações.* [Ler]

4 Mesmo o canto mais afastado em que se abrigavam não os punha ao abrigo do terror: ruídos aterradores ressoavam em torno deles, e taciturnos espectros de lúgubre aspecto lhes apareciam. [Ler]

5 Nenhuma chama, por intensa que fosse, chegava a iluminar. E a luz brilhante dos astros era impotente para alumiar esta noite sombria. [Ler]

6 Mas aparecia-lhes de súbito nada mais que uma chama aterradora, e, tomados de terror por esta visão fugitiva, julgavam essas aparições mais terríveis ainda. [Ler]

7 A arte dos mágicos se mostrou ilusória, e esta sabedoria, a que eles pretendiam, evidenciou-se vergonhosamente como falsidade.* [Ler]

8 Aqueles que se jactavam de banir das almas doentes o terror e a perturbação, eram eles mesmos atormentados por um ridículo temor. [Ler]

9 Mesmo quando nada de mais grave os aterrorizava, a passagem dos animais e o silvo das serpentes punham-nos fora de si, e eles morriam de medo. Recusavam até mesmo contemplar essa atmosfera à qual nada podia escapar; [Ler]

10 porque a maldade, condenada por seu próprio testemunho, é medrosa, e, sob o peso da consciência, supõe sempre o pior, [Ler]

11 pois o temor não é outra coisa que a privação dos socorros trazidos pela reflexão,* [Ler]

12 porque, quanto menor for em sua alma a esperança de auxílio, tanto mais penosa é a ignorância daquilo de que se tem medo. [Ler]

13 Eles, durante essa noite de impotência, saída dos recantos do Hades impotente, dormiam num mesmo sono, [Ler]

14 agitados, de um lado, pelo terror dos espectros, e paralisados, de outro, pelo desfalecimento da alma; pois era um pavor repentino e inesperado o que se abatera sobre eles. [Ler]

15 E todo aquele que caía sem força ficava como que preso e encerrado num cárcere sem ferros.* [Ler]

16 Fosse ele camponês ou pastor, ou o operário que se afadiga sozinho no seu trabalho, uma vez surpreendido, tinha de suportar a inevitável necessidade, porque todos estavam ligados por uma mesma cadeia de trevas. [Ler]

17 O silvo do vento, o canto harmonioso dos passarinhos nos ramos espessos, o murmúrio da água correndo precipitadamente, o estrondo das rochas que se despenhavam, [Ler]

18 a carreira invisível dos animais que saltavam, os urros dos animais selvagens, o eco que repercutia nas cavidades dos montes: tudo os paralisava de terror. [Ler]

19 Enquanto o mundo inteiro era alumiado de uma brilhante luz, e sem obstáculo se entregava às suas ocupações, [Ler]

20 somente sobre eles se estendia uma pesada noite, imagem das trevas que mais tarde os deviam acolher; e eram para si mesmos um peso mais insuportável que esta escuridão.* [Ler]

Capítulo 18 Ver capítulo

1 Contudo, para vossos santos havia uma luz brilhantíssima. Sem verem seus semblantes, os outros ouviam-lhes a voz, e julgavam-nos felizes por não sofrerem os mesmos tormentos. [Ler]

2 Davam-lhes graças, porque não se vingavam dos maus-tratos suportados, e pediam-lhes perdão de sua inimizade.* [Ler]

3 Pelo contrário, vós destes uma coluna luminosa para guiá-los na sua marcha para o desconhecido, como um sol que sem incomodá-los alumiava seu glorioso êxodo.* [Ler]

4 Mas eles bem mereciam ser privados da luz e aprisionados nas trevas, eles, que tinham encerrado em prisões os vossos filhos, através dos quais a incorruptível luz da Lei se devia comunicar ao mundo.* [Ler]

5 Também tinham resolvido levar à morte os filhos dos santos, mas um deles foi exposto e salvo, e para puni-los fizestes perecer em multidão os seus filhos, e, todos juntos, vós os aniquilastes na profundeza das águas.* [Ler]

6 Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais, para que, conhecendo bem em que juramentos confiavam, ficassem cheios de coragem.* [Ler]

7 Assim vosso povo esperava tanto a salvação dos justos como a perdição dos ímpios, [Ler]

8 e, pelo mesmo fato de terdes destruído nossos inimigos, vós nos convidastes a ser vossos e nos honrastes.* [Ler]

9 Por isso, os santos filhos dos justos ofereciam secretamente um sacrifício; de comum acordo estabeleciam o pacto divino: que os santos participariam dos mesmos bens e correriam os mesmos perigos; e entoavam já os hinos de seus pais,* [Ler]

10 quando se elevaram os gritos confusos dos inimigos e se espalharam as lamentações dos que choravam seus filhos. [Ler]

11 Uma mesma sentença feria o escravo e o senhor, o homem do povo sofria o mesmo castigo que o rei. [Ler]

12 Todos igualmente tinham um número incalculável de mortos abatidos da mesma maneira; os sobreviventes não eram suficientes para sepultá-los, porque, num instante, sua melhor geração era exterminada. [Ler]

13 Depois de terem permanecido incrédulos por causa de seus sortilégios, reconheceram, vendo morrer seus primogênitos, que esse povo era verdadeiramente filho de Deus,* [Ler]

14 porque, quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite chegava ao meio de seu curso, [Ler]

15 vossa palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real, e, qual um implacável guerreiro, arremessou-se sobre a terra condenada à ruína.* [Ler]

16 De pé, ela tudo encheu de morte, e, pisando a terra, tocava os céus. [Ler]

17 No mesmo instante, visões e sonhos terríveis os perturbaram, e temores inesperados os assaltaram;* [Ler]

18 tombando aqui e acolá, semimortos, revelavam a causa da morte que os atingia; [Ler]

19 porque os sonhos que os tinham agitado tinham-nos informado antecipadamente, para que eles não perecessem sem conhecer a causa de sua desgraça. [Ler]

20 Verdade é que a prova da morte feriu também os justos, e numerosos foram os que ela abateu no deserto, mas a ira de Deus não durou muito tempo, [Ler]

21 porque um homem irrepreensível se apressou a tomar sua defesa, servindo-se das armas de seu ministério pessoal, a oração e o sacrifício expiatório do incenso. Opôs-se à ira, e pôs fim ao flagelo, mostrando que era vosso servo.* [Ler]

22 Dominou a revolta, não pela força física, nem pela força das armas, mas pela sua palavra deteve aquele que castigava, relembrando-lhe os juramentos feitos aos antepassados e a aliança estabelecida. [Ler]

23 Já os mortos se amontoavam uns sobre os outros, quando ele interveio, deteve a cólera e afastou-a dos vivos. [Ler]

24 Na sua longa vestimenta estava representado o universo inteiro; nas quatro fileiras de pedras os nomes gloriosos dos patriarcas; e no diadema de sua cabeça vossa Majestade.* [Ler]

25 Diante destas coisas cedeu o exterminador e foi diante destas coisas que retrocedeu: porque a simples demonstração de vossa ira era suficiente. [Ler]

Capítulo 19 Ver capítulo

1 Quanto aos ímpios, inexorável foi a ira que os perseguiu até o fim: porque Deus previa o que eles haveriam de fazer, [Ler]

2 isto é, depois de terem deixado partir os justos, instando mesmo que fossem embora, mudariam de opinião e os perseguiriam. [Ler]

3 Na verdade, eles estavam ainda enlutados, e gemiam ainda sobre a tumba de seus mortos, quando loucamente tomaram outra resolução e perseguiram, como a fugitivos, aqueles aos quais tinham rogado que partissem. [Ler]

4 Um merecido destino os impelia a esse proceder extremo, e os atirava no olvido dos acontecimentos passados, para que sofressem, em meio a tormentos, um castigo completo, [Ler]

5 e fossem feridos de uma morte insólita, enquanto vosso povo tentava uma extraordinária passagem. [Ler]

6 É que toda a criação, obedecendo às vossas ordens, foi remodelada em sua natureza, para que vossos filhos fossem conservados ilesos.* [Ler]

7 Foi vista uma nuvem cobrir o acampamento, e a terra seca surgir do que tinha sido água, um caminho viável formar-se no Mar Vermelho, e um campo verdejante emergir das ondas impetuosas.* [Ler]

8 Por aí passou toda ela, a nação dos que vossa mão protegia, e que viram singulares prodígios. [Ler]

9 Iam como cavalos conduzidos à pastagem, e saltavam como cordeiros, glorificando a vós, Senhor, seu libertador, [Ler]

10 porque eles se lembravam ainda do que tinha acontecido na terra estrangeira: como a terra, contrariando a geração dos vivos, tinha produzido moscas, e como o rio, em lugar de peixes, tinha lançado fora uma multidão de rãs. [Ler]

11 Mais tarde, viram ainda nascer uma nova espécie de pássaros, quando, premidos pela cobiça, pediram manjares delicados, porquanto, para satisfazê-los, codornizes subiram do mar. [Ler]

12 Os castigos não surpreenderam os pecadores, sem que fossem antes advertidos pela violência dos raios.* [Ler]

13 Suportavam justamente o castigo de sua própria maldade, porque tinham mostrado excessivo ódio pelo estrangeiro. [Ler]

14 Houve muitos que não quiseram receber hóspedes desconhecidos, mas estes reduziram à escravidão hóspedes que tinham sido benfeitores.* [Ler]

15 E isso não é tudo; haverá algo a mais que um castigo qualquer para aqueles que acolheram mal os estrangeiros: [Ler]

16 mas estes, a princípio, receberam bem seus hóspedes, e concederam-lhes a participação em seus direitos. Em seguida, eles os encheram de males. [Ler]

17 Do mesmo modo, foram feridos de cegueira, como aqueles homens, às portas do justo, quando, envolvidos por uma profunda escuridão, procuravam, cada um de seu lado, o caminho para suas casas.* [Ler]

18 Assim, os elementos mudavam suas propriedades entre si, como na harpa os sons mudam de ritmo, conservando a mesma tonalidade. É o que se pode verificar perfeitamente quando se consideram esses acontecimentos. [Ler]

19 Os seres terrestres tornavam-se aquáticos, os que nadam passavam à terra,* [Ler]

20 o fogo era mais violento debaixo da chuva, e a água esquecia a propriedade que tem de extingui-lo. [Ler]

21 Além disso, as chamas não ofendiam as carnes dos frágeis animais que as atravessavam, e não liquefaziam esse alimento celeste, semelhante ao gelo e inteiramente capaz de se derreter. [Ler]

22 É que em tudo, Senhor, engrandecestes e glorificastes vosso povo, e não deixastes de assisti-lo em todo o tempo e em todo o lugar. [Ler]

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